Trecho

MAS PRIMEIRO...

O que você descobrirá lendo


1. O que os duques realmente fazem.

2. Que Srta. Mary e Sr. Rabugento são conselheiros bastante sensatos (Mesmo sendo patos de poucos quás).

3. Se você pensar muito em George Perverso, ele irá aparecer para você.

4. Pães podem ser usados como armas de defesa.

5. Damas distintas não dormem em recepções em qualquer idade (E cavalheiros distintos não assustam damas em cochilo).

6. Que certa vez, em um duelo, um libertino amordaçou e depois amarrou um cavalheiro com um nó de marinheiro.

7. Labirintos podem ser locais perfeitos para encontros indecorosos.

8. Beijos são coisas confusas.

9. Às vezes, o cavalheiro mais difícil de seduzir é seu próprio marido.

AGORA VOCÊ ESTÁ PRONTO!



PRÓLOGO
Ninguém além dela parecia ouvir os gritos que vinham do alto da escada. Mas claro todos estavam na sala de visitas da duquesa, do outro lado da casa, tomando chá e comendo aqueles bolinhos tão apetitosos que Avery jamais pudera experimentar. Avery não sabia por que sua tia, lady Ross a levava para tomar chá na casa da duquesa de Norwich, se ela nunca poderia participar do evento juntamente da prima. Mas Avery não sabia de muitas coisas. Nem de coisas importantes: Como porque tinha de ficar no quarto quando algumas visitas iam a Nithercott House; e coisas estranhas: Como a soma exorbitante de "ss" no nome de sua tia Lady Elisses Ross.

Ou a falta do "H" (do ponto de vista dela) no nome tio, Lorde Albert Ross.

Entretanto, apesar de não entender muitas coisas, Avery não gostava desse fato. Sua tutora e de sua prima, Miss Elliot, vivia ensinando-as que se fossem boas e dedicadas poderiam entender aquelas várias linhas que transcreviam em Francês. Do alto dos seus oito anos, Avery decidiu que poderia usar do "boa e dedicada" para qualquer que fossem as coisas que buscava entender. E por isso, Avery escapou da cozinha na qual estava enfiada assim que ouviu o primeiro grito. Depois seguiu o som pavoroso e parou diante do primeiro degrau da escada. Então pensou um pouco: tendo certeza absoluta de que era boa, decidiu que cabia a ela subir dedicadamente as escadas para a ala dos quartos.

Havia dezenas de portas, o que não causou surpresa em Avery. Se tinha uma coisa que havia na casa de sua tia, eram portas. Ela até as explorava com sua prima, ás vezes e gostavam de colocar na cabeça as perucas velhas que encontravam nos quartos. Mas para a infelicidade de Avery, os gritos cessaram complicando sua busca. Entretanto, antes que Avery começasse a abrir todas as portas, ela percebeu que os gritos haviam sido substituídos por soluços e por um choro irritante. Deixou-se conduzir pelos sons até a última porta da ala.

A porta era um tanto pesada e Avery precisou de algum esforço para afastá-la do lugar. Assim que o fez, assustou-se ao entrar em um quarto completamente escuro, rodeado por pesadas cortinas nas janelas e iluminado por velas.

"Quem está ai?" Gritou a voz chorosa quando ela fechou a porta atrás de si.

Avery não respondeu. Ao invés disso caminhou em direção a grande cama com dossel vermelho. E então ela viu.

Era o garoto mais pálido que já vira na vida e isso se acentuava ainda mais graças aos fartos cabelos escuros. Tinha o rosto magro e um nariz tão vermelho que parecia uma cereja. Seus olhos eram grandes. Olhos verdes que brilhavam cheios de lágrimas e que a encaravam com raiva:

"Quem é você e o que está fazendo em meu quarto?" Exigiu saber o garoto em voz imperiosa e se amontou sobre os lençóis, fazendo cara feia.

Avery não gostou nada dos modos dele.

"Que modos terríveis! Você parece o meu terrível primo George!" Acusou-o.

George era mesmo um primo terrível. Perverso e tinha brincadeiras pavorosas que envolviam beliscões muito desagradáveis.

O menino no leito encarou-a sem ação por algum tempo. Talvez, surpreso por ser repreendido por uma garotinha que devia ter quase a mesma idade que a sua. Mas isso, não durou muito.

"Eu não me pareço nem um pouco com seu terrível primo George!" Protestou gritando outra vez.

"Ora, pare de gritar!" Devolveu Avery. "Quanto mais você grita, mais se parece com ele!"

O garoto ficou pensativo outra vez. Provavelmente analisando se a garota diante dele tinha razão. Mas como ele poderia saber? Não conhecia o terrível primo George!

"Qual é o seu nome?" Disse por fim, dessa vez sussurrando.

Avery sorriu.

"Bem, você também não precisa sussurrar." Ela se aproximou e se postou a beira da cama. "Sou Avery Crewe."

Pela primeira vez, o menino pálido sorriu.

"Sou Mattew Strallan"

"Você é o filho da duquesa?"

Mattew assentiu com a cabeça.

"E conde de Mayfield." Completou estufando o peito com mais orgulho do que qualquer garoto de nove anos.

Ela ignorou por completo sua demonstração de nobre distinto.

"Porque eu nunca vi você?"

Avery morava com os tios desde que perdera os pais há muito tempo. Na verdade, chegara a Nithercott House ainda com dois anos e desde que fizera alguma idade, acompanhava a tia em visitas na casa da duquesa. Sabia sim, que ela tinha um filho. Lady Ross mencionara algumas vezes. Mas realmente achava estranho não vê-lo nunca.

"Ninguém me vê muito, além dos médicos é claro. E mamãe e papai."

"Por isso você estava gritando como um bebê chorão?"

"Eu não sou um bebê chorão!" Defendeu-se Mattew. "Além disso, estava com dor e por isso gritava."

"Ah, então você está doente! Por isso está nesse quarto escuro."

Mattew concordou.

"Sim."

"E quando ficará bom?" Avery não se perturbou e sentou-se na cama.

"Não sei. Não vou ficar." Disse Mattew e depois suspirou. "Os médicos dizem que eu vou morrer logo, já que estou sempre doente."

"Ora, não diga tolices! Claro que você não vai morrer logo!" Avery meneou a cabeça negativamente, fazendo seus cachos loiros balançarem. "É só um garoto. Garotos não morrem."

Avery disse aquilo com simplicidade. Seus olhos azuis brilhavam em uma confiança inabalável. E muito embora Mattew tivesse certeza de que ela não tivesse qualquer conhecimento médico já que não trazia consigo uma maleta com aqueles remédios de gosto horrível, ele gostou do que ela disse.

"Você acha que não irei morrer?" Depois seu semblante voltou a ter a expressão petulante do início da conversa. "Como você sabe que eu não irei morrer?"

"Eu nunca vi nenhum garoto morrer." Avery respondeu simplesmente e deu de ombros. "E eu conheço alguns."

Bem, fazia sentido. Mattew também não vira nenhum garoto morrer. Além disso, o único garoto que conhecia era ele próprio. A menina diante dele tinha razão pela segunda vez.

"Você não morrerá." Continuou Avery. "E quando ficar bom talvez possa tomar chá e comer biscoitos com a sua mãe. Parecem tão gostosos!"

"Eu tenho biscoitos e chá!" Mattew informou contente.

Agora que sabia que não morreria logo, sentia-se mais animado e a dor que parecia sentir por todo o corpo, melhorara.

"Verdade?" Avery se levantou da cama contente.

Mattew não respondeu, afastou os lençóis e saltou da cama. Encontrou a bandeja que a criada deixara em um dos cantos do quarto e voltou com ela, depositando-a sobre o colchão. Avery subiu na cama, ajoelhando-se sobre os tornozelos para servir-se dos biscoitos e de um pouco de chá.

Mattew tentou falar algo de boca cheia e Avery riu. O garoto também riu, lançando farelos para os lados. Então, depois de engolir parte do biscoito, perguntou:

"Como é seu primo George?"

"O que?" Avery franziu o cenho sem compreender.

Mattew engoliu o restante do biscoito.

"O seu primo George. Ele tem modos assim tão terríveis?"

"Ah, sim." Avery respondeu. "Ele grita mais do que você, mas isso quando ele tem que tomar banho. Na verdade, ele grita com todo mundo. Também tenta colocar insetos na gola do meu vestido. Já fez isso com Edith que quase morreu de susto. Mas o bobo não sabe que eu não tenho medo." Ela fez uma careta. "Ele também puxa minhas tranças e ás vezes me belisca durante o jantar."

"Que coisa horrível!" Mattew exclamou enquanto roía mais um pedaço de biscoito. "Seu primo é perverso."

"Está tudo bem. Eu chuto as canelas dele quando minha tia não está vendo."

Novamente os dois riram.

"Eu também poderia chutar-lhe as canelas." Proclamou Mattew orgulhoso. "Quem sabe quando eu ficar bom?"

Avery assentiu.

"Seria ótimo! E poderá sair do quarto." Ela suspirou olhando para as pesadas cortinas. "Deve ser entediante ficar aqui o dia todo."

Mattew também suspirou.

"É sim. Já vi o jardim da janela e gostaria de correr por lá. Papai disse que há um lago por perto e que há patos por lá."

"Eu já os vi."

"Já?"

"Sim. Meu tio já me levou até lá algumas vezes e agora conheço o caminho. Uma vez até levei migalhas para os patos!"

Os olhos de Mattew brilharam de animação. Seu rosto até adquiriu uma cor melhor.

"E você me levaria até lá um dia?"

"Claro."

Os dois riram e conversaram por tanto tempo, que Avery se esqueceu de que deveria voltar e tanto ela quanto Mattew acabaram pegando no sono. Acordaram mais tarde com dois pares de olhos femininos encarando a cena como se ela fosse o maior dos pecados que já haviam presenciado na vida. A duquesa de Norwich ficou ultrajada e repreendeu o filho com avidez, mas Lady Ross garantiu, dentro da carruagem no caminho para Nithercott House, que Avery seria mais do que punida pela desobediência de não permanecer na cozinha.

Entretanto, quando o duque de Norwich chegou em casa naquela noite e encontrou o filho animado e melhor do que jamais estivera, derramou algumas lágrimas de emoção. A duquesa não poderia ter mais filhos e ele estava certo de que, mais dia, menos dia, perderia seu único herdeiro. Mas Mattew, naquele dia, simplesmente parecia muito mais disposto a vida do que o homem poderia ter sonhado. E as felicidades do duque não pararam por ali. Mattew foi se tornando cada vez mais saudável. Seu sistema imunológico antes débil, agora se fortalecia todos os dias sem que os médicos encontrassem uma explicação.

"Ele quer viver." Disse o doutor Nigel em sua última visita. "É tudo que posso compreender."

E em questão de meses, Mattew Strallan, que antes vivia preso no quarto, estava correndo pelos limites da propriedade, junto de Avery e Edith Ross. Ás vezes, chutando as canelas de George Ross também.

A duquesa não via com bons olhos a amizade do filho com Avery e pedia ao duque para proibi-la.

"Uma órfã, imagine só!" Dizia Cora Norwich.

"Ela é filha da irmã de Lorde Ross." Contornava Robert Norwich.

"Que foi deserdada pela família por se casar com um homem pobre! Revidava a mulher, implacável. "A menina se quer deve ter um dote!"

"Por Deus, mulher! Eles não vão se casar, estão apenas brincando juntos!"

"Hmpft! É o que você acha meu marido. Mas eu vejo melhor e vejo mais longe!"

"Desde que não saiam dos limites das propriedades, não vejo realmente nada mais longe."

E no final, a esposa não conseguia nada do duque. Este estava mais do que satisfeito em ver o filho a plenos pulmões e de resto, ordenou a esposa que não mais o perturbasse com aquele assunto monótono. Concedendo assim, que Avery e Mattew se tornassem amigos inseparáveis para todo o sempre.

O problema foi que o todo sempre no mundo das crianças é bem menor do que o mesmo no mundo dos adultos.

"Tenho de ir aprender a fazer o que os duques fazem." Informara Mattew quando estavam alimentando os patos no lago. Depois dera de ombros. "Seja lá o que for que os duques fazem." Em seguida, ele sorrira para ela. "Mas não se preocupe, eu voltarei. É uma promessa."

E uma semana depois, Avery viu o seu melhor amigo subir em uma carruagem e partir. Mattew acenou para ela até que a estrada se fechasse em uma curva e Avery acenou até mesmo um pouco depois.

Perguntou ao tio, naquele dia, quando voltava para a casa com o bondoso senhor tentando consolá-la, se veria seu amigo Mattew novamente. Seu coração infantil apertava-se no peito, enquanto ela esperava a resposta do tio.

O tio apenas coçou a cabeça e sorriu para ela. Um sorriso morno, como quem não sabe o que dizer.

"Você o verá." Garantiu por fim.

Mas o tom de voz do tio não era tão seguro. Avery percebeu.

Entretanto, decidiu acreditar em Mattew. Seu melhor amigo voltaria. Ele lhe prometera e ela confiaria. E esperaria por ele.

***